sexta-feira, abril 02, 2010

Jogo da vida

É muito emocionante quando colhemos os frutos que o esporte planta em nossas vidas.
Tudo começa na barriga de nossas mães quando inicia a discussão. A mãe é torcedora de um time, o pai do outro, e ai... Pra que time a criança vai torcer? Os tios e avôs também discutem, tomam as dores do parto e exigem que a criança torça pelo seu time, por uma questão de tradição, entre outros argumentos. Se existe concordância entre todas as parte... Que maravilha... Nasce a paz no campo e a união das torcidas nos transformam em uma torcida organizada.
Tudo bem que não somos consultados sobre essa escolha, mas a abraçamos como se estivéssemos escolhido.
Alguns pais se acham democráticos e dizem: “Quando ele ou ela crescer vai escolher sozinho(a)”, mas logo quando nasce nem aprende a falar “mamãe”, e o pai escondido ensina a falar o nome do seu time. Outros pais logo declaram para a criança dando o 1º uniforme do seu time, sua nova paixão, a sua maior herança, da qual será carregada por toda a sua vida. Vira uma questão de honra, fica meio que sem jeito mudar seu time só porque ele não está em uma boa fase. Tem toda uma questão de dignidade envolvida, além do que, foi o time que papai me ensinou a torcer e estando ele na Segundona ou Campeão, estaremos com ele, feito carne e unha, ou cão e gato... Mas é assim mesmo, futebol, esporte tem as fases e nos emocionamos com elas...
Depois, quando mais crescidinhos vamos sendo direcionados para nossa primeira escola. Que emoção, que momento marcante. Mas, não é a escola da tia, onde aprendemos a ler e escrever e sim a escolinha de futebol, vôlei, natação, judô, entre outras. É lá que nossos pais se emocionam ao nos ver fazer o primeiro GOL,dar a 1ª pedalada, ou a marcar o primeiro PONTO, é lá que nos socializamos, definimos nosso físico, nos mantemos saudáveis, aprendemos a ganhar, a perder, a hora certa de parar, a reconhecer quando não estamos tão bem preparados quanto esperávamos, a trabalhar em equipe e principalmente, a seguir regras impostas por pessoas mais experientes do que nós que acreditam no nosso potencial e nos mostram que sempre podemos mais.
Choramos, sofremos, sorrimos, rezamos... Quantas emoções diferentes temos ao ver nosso time ganhando ou perdendo? Quantas decisões devem passar por nossa cabeça antes de definirmos um lance, um pênalti, um saque, uma pedalada, uma braçada... Algo que só depende de nós naquele momento, algo que influenciará toda uma torcida, algo que nos marcará de alguma forma sendo nosso maior orgulho, ou nossa principal decepção, é como concertar o meião, não é mesmo Roberto Carlos. Tudo em fração de segundos. Que trabalho psicológico tem o esporte em nossas vidas, como isso influenciará no meu caráter?
Vejo principalmente que o futebol é para o brasileiro assim como o tango é para os argentinos, uma paixão nacional. Temos na nossa história o melhor futebol do mundo, a melhor seleção, os melhores jogadores e a torcida mais apaixonada do mundo.
É, no Brasil o futebol e o esporte no geral são fonte de renda, movimenta a economia, se torna o sonho da profissão de muitas crianças, jovens, adolescentes e até mesmo adultos, mas será que é fácil viver do esporte, será que todos são reconhecidos? Um país com alto nível de desigualdade social, um país de 3º mundo, com baixo nível de alfabetização que segura no samba, na pontinha dos pés e no coração torcedor a certeza de que um dia chegará lá. É para esse time de campeões que lutam diariamente por uma vida digna, saudável e que possam oferecer o mínimo para seus familiares que são seus fiéis torcedores, que não encontram patrocinador e possuem pouco incentivo público, que nos colocamos de pé para aplaudir.
Do verde que precisamos para o gramado, estamos ricos e estamos aprendendo a preservar. A paixão e a vontade de vencer moram em nossos corações. Agora só falta acordar para os múltiplos benefícios que só o esporte carrega e fazermos hoje o que ficaria para amanhã. Eu visto essa camisa, jogo com amor e respeito às regras do jogo. Esporte é mobilização e não combina com preguiça. O brasileiro tem fome de vitória, se contorce para fugir da criminalidade, dribla as doenças, salta em busca da educação, mergulha pela sobrevivência, bloqueia a insatisfação e busca o gol da vitória.
Está na hora de nos unirmos, reunir os torcedores e convocá-los para sair das arquibancadas, deixar de ser meros expectadores que sonham por um novo técnico que mudará nossa realidade e assumirmos o “Pelé” que existe dentro de cada um de nós e assim marcarmos nossa própria história.

Débora Cristina Azevedo Louredo.